quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

Amor... é isso ou aquilo?

Por Ana Nery:

Sentimentos, sensações, sentidos...

O que podemos captar de certos sentimentos tão sublimes, tão intensos...

Seria nossa construção da vida social, a responsável pelo que chamamos de amor? seria nossa capacidade de dar nome às coisas, de reificar, categorizar? seria culpa dos filósofos gregos, do mundo ocidental, do capitalismo? das novelas e dos contos de fadas que findam com o fatídico felizes para sempre? seria responsabilidade das religiões que nos trazem um conceito de amor às vezes atrelado ao ideal da entrega e sofrimento?

Tudo que imaginamos ou mensuramos que figura em torno do amor romântico ou dos sentimentos que cabem dentro dessa ideia que temos de amor, por vezes liberta, mas também aprisiona, oprime. Fidelidade, mono-poli-gamia, , amad@, amante, traíd@, traid@r, errante, leal, fiel, e todos os conceitos que cabem ou não dentro que geralmente entendemos por amor, as vezes ainda não é suficiente para  explicar cada história, cada momento, cada instante que se vive um amor.

Perguntei a alguém como sabemos se uma pessoa nos ama de verdade. Prontamente me respondeu que podemos ter referenciais diferentes do significado de amor e que devemos ir em busca do que nos faz bem. Mas que paradoxo, pensei depois de ler sua mensagem, pois e veio à mente os versos de Raul que diz “que ninguém nesse mundo é feliz tendo amado uma vez”. Será que nosso problema está justamente na busca? na impressão que temos de que um amor irá nos completar? Será que essa sensação de “cara metade”, “metade da laranja”, “alma gêmea” pra citar aqui Fábio Júnior existe? Existe amor de verdade?


Existe verdade no amor? outro alguém me disse que sabemos quando nos amam, quando mesmo não fazendo por merecer ainda sim somos amad@s. Ainda sim, impactada por essa resposta descobri que a partir desse entendimento eu amo alguém, mas não pude ainda mensurar o contrário. Como posso avaliar se mereço ou não o amor de alguém e se faço por merecê-lo? Pensei também se amor se dá quando fazemos ou não por merecer, e como sabemos se fazemos então? Pensei então na letra de Djavan quando fala “Só Deus sabe o saldo Creditado ao amor que lhe dou”

E o oposto disso? O amor livre, “estar-se preso por vontade” como diria Camões, também é possível¿ estar-se livre e pres@, desacorrentado, liberto de todas as amarras ou entregue aos prazeres e intensidades que o momento permite, será possível?

Amo como ama o amor. Não conheço nenhuma outra razão para amar senão amar.  (Fernando Pessoa)

Colocar letra no papel (mesmo que eletrônico) sobre coisas tão abstratas e ao mesmo tempo tão palpáveis e visíveis é passear por lembranças, desejos, olhar o que passou, o que acontece hoje e o que pode vir pela frente. Certo, é que por mais que queiramos mensurar uma forma de amar, ou adequar isso aos desejos que temos ou que achamos que temos às vezes torna a prática do que chamamos de amar mais angustiada. As nossas concepções do sentir, do querer e desejar desafiam a psicanálise a psicologia e tantas ciências que almejam nos ajudar a enfrentar ou lidar melhor com tais sentidos. A arte, em forma de música e poesia prosa os sentimentos através de expressões que descrevem o sentir de quem o expressa. Ouvir Cartola, Djavan, Marisa Monte, ler Camões, Saramago, Quintana, Lispector ou tant@s outr@s nos faz viajar e às vezes nos identificar com as letras que parecem descrever nossos sentimentos ou momentos. Apreciar as pinturas de Frida Kahlo, nos faz também viajar em imagens que remetem a um amor intenso, entregue e ao mesmo tempo livre e desapegado, se é que essa leitura é possível...

Sentir e pensar sobre o que sentimos e tentar racionalizar sobre, às vezes é um caminho conflitante na medida em que os limites do sentir nem sempre podem ser pensados de forma racional. Amar em demasia, ou de forma contida, ser leal ao que sentimos, desafiar ou impor limites, entender o que se sente ou sentir o que se entende, denominar outras palavras para o que se chama de amor, sentir dominado ou dominador numa lógica de entendimento própria, sentir-se dependente de um sentimento, ou alheio a ele, ou qualquer que seja o entendimento é apenas ENTENDIMENTO e cada um(a) de nós tem o que melhor convém.

Amar, e tudo que envolve esse vocábulo ou tudo que envolve esse sentir diz muito do que somos, do lugar de onde viemos e o que queremos. Amar e ser leal a si mesm@, permitir, viver, também é uma escolha, se é que elas existem... o que sei hoje e o que posso dizer é que cada um(a) de nós ama segundo suas construções (nem sempre nossas de fato), mas cada um(a) ama ou sente de uma forma própria e ser leal a isso talvez seja caminho mais honesto, o que não significa ser o menos doloroso...

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