sexta-feira, 22 de março de 2013

Um pouco de amor e o resto de paixão

Por Jônatas Perote:

Talvez eu não acredite em amor, talvez não da mesma forma que as pessoas acreditam. Pode soar ou parecer estranha tal afirmativa, afinal, a maioria das pessoas vivem em função dele ou a sua procura infinita. Mas é que o sentimento em si é sublime demais, requer uma calmaria, uma espécie de transcendentalismo decadente. É cantado e cantado na música, na poesia, nos romances, nas rodas de amigos, na mesa de bar...

É a procura incessante pelo complemento de um “eu retorcido”, estático, que procura no outro a razão da existência e se não se encontra o amor, bate o desespero, a vida fica pérfida, sem sentido, obscura. Parece que a existência não perpassa os limites impostos, os erros cometidos e a imanência do momento presente. Parece que todo mundo quando beija quer ouvir uma orquestra tocando algo superior, um arranjo de pura genialidade, que seja capaz de tirar-lhes do lugar-comum, da vida vazia e cheia de mesquinharia...

A paixão não. Não, não ela, não dessa forma, mas com tamanha intensidade. Ela chega a ser um misto de sagrado e profano, de um doce amargo, de um sacrilégio puro, de imperfeição perfeita e de um prazer atormentado... O amor não: é tímido, é contido, almeja o céu, quer sublimar-se! A paixão não se importa em pegar fogo, quanto mais lenha, mais chama. É uma sacrílega, é uma pecadora e gosta de está na fronteira do bem e do mal, é tendenciosa.

Enquanto o amor procura seus cativos, ela procura os libertos. Enquanto o amor se contenta com a posse (“amor é latifúndio”), a paixão procura os de espírito livre e na penumbra (“sexo é invasão”).

Cada qual pense da forma que lhe for conveniente, mas a maioria das pessoas preferem ser consumidas pela chama bela e alta da paixão com seus percalços e descaminhos do que transcender por poucos segundos através do amor. Preferem-se os monólogos mais longos do que os diálogos mais curtos. Assim, amor e paixão vão, ora se digladiando, ora convivendo no mesmo espaço, ora não existindo nenhum dos dois no palco inestimável de uma existência um tanto paupérrima...

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