segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

O tempo da urgência

Abaixo a primeira matéria da jovem nunesfreirense Flaviana Alves, estudante de jornalismo da Estudantes de jornalismo da Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC Goiás).

Confira a matéria publicada no Tribuna do Planalto:

Por Flaviana Alves e Luiz Magno* - De Brasília Especial para a Tribuna

Uma maranhense, um paraibano, um porto alegrense, ca­riocas e paulista­nos. Pessoas de diversas regiões do Brasil ocupam os es­paços do Centro Internacional de Convenções do Brasil (CICB), localizado em Bra­sília, para participar do Fórum Mundial de Direitos Humanos (FMDH), realizado entre a terça-feira, 10, e a sexta,13.

“Sou do perímetro da seca”, diz o paraibano José Taunaí, 57. Com formação em economia, ele atua na defesa de minorias em Patos, na Paraíba. Taunaí, como gosta de ser chamado, trabalha em prol dos direitos de jovens, idosos, mu­lheres e negros na Secretaria Executiva de Articulação Social da sua cidade. Região em que, segundo ele, a “chuva representa a própria vida”.

Uma indígena, uma negra, uma transexual e pessoas com deficiências. Diferentes minorias participaram das conferências, debates e atividades autogestionadas realizadas. Du­rante as rodas de conversas, é bo­nito ver a beleza das diferenças.

Ângela Silva, coordenadora da ONG Fashion Inclusivo, projeto que tem mais de 50 mo­delos com as mais variadas de­ficiências, organizou du­rante o FMDH o Desfile de Moda em Pas­sarela de Pes­soas com Deficiência.

Enquanto as crianças desfilavam, uma das mães, Cynara Myklos, comentava o quanto o projeto tem feito bem ao seu filho. “A autoestima das crianças aumentou muito depois que eles começaram a desfilar, o João Guilherme se sente mais bonito, com a autoestima mais elevada”, comemora.

Uma coreana, uma marroquina, uma peruana e um liba­nês. As partes do mundo se en­contram para discutir seus direitos. Diferentes culturas circulam pelos corredores do CICB, par­tilhando dos mesmos anseios.

A marroquina Saadani Ma­o­u­lainine é a voz de um povo oprimido há 38 anos pela Frente Po­lisário - movimento político-revolucionário que luta pela sepa­ração do Saara Ocidental, sob domínio de Marrocos. Mem­bro do Conselho Real Con­sul­tivo para os Assuntos Sarania­nos (CORCAS), Saa­da­ni foi deportada para Cuba, quando tinha a­penas 5 anos de idade e teve de passar 17 anos na América Central. Seu pai morreu sob tortura, após se recusar a en­viar a filha para outro país.

Saadani enfatiza que veio ao Brasil para denunciar o que ocorre em seu país. “Esse é um conflito que já dura mais de 38 anos. Então eu, que já vivi na pele as consequências dessas violações dos direitos huma­nos, estou aqui para lançar a voz para milhares de pessoas que estão juntas nesse espaço de debate em Brasília”, afirma.

Durante o Fórum ocorre­ram mais de 400 atividades autogestionadas - palestras, oficinas e rodas de conversa compunham a modalidade, reali­zadas à tarde e tinham como proponentes entidades, governos municipais e estaduais, além da sociedade civil. Estas institui­ções propuseram também atividades culturais. Rodas de capoeira, dança pagã e ba­tu­ques do axé. Nos corredores, os proponentes das atividades autogestionadas convidam quem passa – e o convite vem em forma de canto.

A diversidade de temas tratados no Fórum era notória nas cerimônias oficiais. Na abertura, índios e simpatizantes da causa subiram as escadas que davam acesso ao palco do auditório, segurando cartazes de protesto, reivindicando respeito à demarcação de suas terras.     

Defensora da libertação pa­lestina, Regina Schuartz entrega panfletos nos corredores, silenciosamente. Brasileira, ela é casada com Rasen Shaban, um palestino que veio para o Brasil na tentativa de libertar uma nação. “No Fórum, pretendo representar o grito abafado do provo palestino, que tem sido negligenciado em boa parte pela mídia. O mundo tem que acordar para isso”, conclama Regina.

Marina Raidel é a primeira transexual feminina do Rio Grande do Sul a ter a Carteira de Nome Social – CNS. Desde maio de 2012, a Secretaria de Segurança Pública do estado promove campanhas para a igualdade de travestis e transexuais, permitindo que elas sejam tratadas em local público pelo nome social - o documento, to­davia, não anula a certidão civil.

Marina acredita que o no­me social fornece visibilidade às travestis e transexuais. “Eu me sentia invisível”, desabafa. “O exemplo mais clássico é o da ida ao médico, que é constran­gedor para as travestis. Eu era chamada pelo nome civil. Era invisível. Agora a moça me vê e chama: Marina Raidel”,  conta, feliz pelo direito conquistado.

As autoridades também deram o ar da graça, como a presidente Dilma Rousseff e o ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva. Lula participou da atividade de convergência sobre a defesa dos Direitos Humanos e o combate à fome. Já a presidente Dilma participou da entrega do Prêmio de Direitos Humanos 2013, solenidade em que foram premiados persona­li­dades como Maria da Penha Maia Fernandes, a cearense que deu nome a Lei que tenta minimizar a violência contra as mulheres; e a fundadora do Movimento Mães de Maio, Debora Maria da Silva.

O Fórum Mundial de Di­rei­tos Humanos encerrou na sexta-feira, 13. Mas como disse o coordenador do Comitê da Comunicação da Secretaria de Direitos Humanos da Pre­sidência da República, “o FMDH é apenas a janela de uma luta que começou antes do dia 10 e não acaba dia 13, vai além, muito além”.

Foram 9.276 pes­soas, de diversas partes do mundo, que transitaram pelas atividades autogestionadas, de­bates e conferências. Diante do an­seio por um mundo melhor, buscavam inspiração para a luta pelos direitos humanos na frase de um painel em homenagem a Nelson Mandela, o líder sulafricano que morreu no último dia 5, aos 95 anos: “Tudo é considerado im­possível até acontecer”. O painel, aliás, foi um dos pontos mais disputados para as famosas selfi­es – fotografia que se tira de si mesmo, em geral com smartpho­ne, para postar nas redes sociais.

Para a ministra-chefe da Secre­taria de Direitos Huma­nos da Presidência da Repú­blica, Maria do Rosario Nunes, “o tempo dos Direitos Hu­ma­nos é sim um tempo de urgência”. Pensar em direitos hu­ma­nos é também pensar em dias melhores. No olhar de Saadani Maoulainine a certeza de que esse tempo chegará. “Devemos criar Nelsons Man­dela em todas as partes do mundo. Lutar pela paz e por um mundo melhor”, diz, convicta.

Na cerimônia de encerramento, a secretária-executiva Patrícia Barcelos anunciou ainda o local do próximo Fórum Mundial de Direitos Humanos, que será no Marrocos, para a alegria de Saadani. Já a edição de 2015 volta à América do Sul, na vizi­nha Argentina.

*Estudantes de jornalismo da Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC Goiás), onde integram o Programa de Direitos Humanos (PDH), foram voluntários do Fórum Mundial de Direitos Humanos.

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