Abaixo a primeira matéria da jovem nunesfreirense Flaviana Alves, estudante de jornalismo da Estudantes de jornalismo da Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC Goiás).
Confira a matéria publicada no Tribuna do Planalto:
Por Flaviana Alves e Luiz Magno* - De Brasília Especial para a Tribuna
Por Flaviana Alves e Luiz Magno* - De Brasília Especial para a Tribuna
Uma maranhense, um paraibano, um porto alegrense, cariocas e paulistanos. Pessoas de diversas regiões do Brasil ocupam os espaços do Centro Internacional de Convenções do Brasil (CICB), localizado em Brasília, para participar do Fórum Mundial de Direitos Humanos (FMDH), realizado entre a terça-feira, 10, e a sexta,13.
“Sou do perímetro da seca”, diz o paraibano José Taunaí, 57. Com formação em economia, ele atua na defesa de minorias em Patos, na Paraíba. Taunaí, como gosta de ser chamado, trabalha em prol dos direitos de jovens, idosos, mulheres e negros na Secretaria Executiva de Articulação Social da sua cidade. Região em que, segundo ele, a “chuva representa a própria vida”.
Uma indígena, uma negra, uma transexual e pessoas com deficiências. Diferentes minorias participaram das conferências, debates e atividades autogestionadas realizadas. Durante as rodas de conversas, é bonito ver a beleza das diferenças.
Enquanto as crianças desfilavam, uma das mães, Cynara Myklos, comentava o quanto o projeto tem feito bem ao seu filho. “A autoestima das crianças aumentou muito depois que eles começaram a desfilar, o João Guilherme se sente mais bonito, com a autoestima mais elevada”, comemora.
Uma coreana, uma marroquina, uma peruana e um libanês. As partes do mundo se encontram para discutir seus direitos. Diferentes culturas circulam pelos corredores do CICB, partilhando dos mesmos anseios.
A marroquina Saadani Maoulainine é a voz de um povo oprimido há 38 anos pela Frente Polisário - movimento político-revolucionário que luta pela separação do Saara Ocidental, sob domínio de Marrocos. Membro do Conselho Real Consultivo para os Assuntos Saranianos (CORCAS), Saadani foi deportada para Cuba, quando tinha apenas 5 anos de idade e teve de passar 17 anos na América Central. Seu pai morreu sob tortura, após se recusar a enviar a filha para outro país.
Saadani enfatiza que veio ao Brasil para denunciar o que ocorre em seu país. “Esse é um conflito que já dura mais de 38 anos. Então eu, que já vivi na pele as consequências dessas violações dos direitos humanos, estou aqui para lançar a voz para milhares de pessoas que estão juntas nesse espaço de debate em Brasília”, afirma.
Durante o Fórum ocorreram mais de 400 atividades autogestionadas - palestras, oficinas e rodas de conversa compunham a modalidade, realizadas à tarde e tinham como proponentes entidades, governos municipais e estaduais, além da sociedade civil. Estas instituições propuseram também atividades culturais. Rodas de capoeira, dança pagã e batuques do axé. Nos corredores, os proponentes das atividades autogestionadas convidam quem passa – e o convite vem em forma de canto.
A diversidade de temas tratados no Fórum era notória nas cerimônias oficiais. Na abertura, índios e simpatizantes da causa subiram as escadas que davam acesso ao palco do auditório, segurando cartazes de protesto, reivindicando respeito à demarcação de suas terras.
Defensora da libertação palestina, Regina Schuartz entrega panfletos nos corredores, silenciosamente. Brasileira, ela é casada com Rasen Shaban, um palestino que veio para o Brasil na tentativa de libertar uma nação. “No Fórum, pretendo representar o grito abafado do provo palestino, que tem sido negligenciado em boa parte pela mídia. O mundo tem que acordar para isso”, conclama Regina.
Marina Raidel é a primeira transexual feminina do Rio Grande do Sul a ter a Carteira de Nome Social – CNS. Desde maio de 2012, a Secretaria de Segurança Pública do estado promove campanhas para a igualdade de travestis e transexuais, permitindo que elas sejam tratadas em local público pelo nome social - o documento, todavia, não anula a certidão civil.
Marina acredita que o nome social fornece visibilidade às travestis e transexuais. “Eu me sentia invisível”, desabafa. “O exemplo mais clássico é o da ida ao médico, que é constrangedor para as travestis. Eu era chamada pelo nome civil. Era invisível. Agora a moça me vê e chama: Marina Raidel”, conta, feliz pelo direito conquistado.
As autoridades também deram o ar da graça, como a presidente Dilma Rousseff e o ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva. Lula participou da atividade de convergência sobre a defesa dos Direitos Humanos e o combate à fome. Já a presidente Dilma participou da entrega do Prêmio de Direitos Humanos 2013, solenidade em que foram premiados personalidades como Maria da Penha Maia Fernandes, a cearense que deu nome a Lei que tenta minimizar a violência contra as mulheres; e a fundadora do Movimento Mães de Maio, Debora Maria da Silva.
O Fórum Mundial de Direitos Humanos encerrou na sexta-feira, 13. Mas como disse o coordenador do Comitê da Comunicação da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, “o FMDH é apenas a janela de uma luta que começou antes do dia 10 e não acaba dia 13, vai além, muito além”.
Foram 9.276 pessoas, de diversas partes do mundo, que transitaram pelas atividades autogestionadas, debates e conferências. Diante do anseio por um mundo melhor, buscavam inspiração para a luta pelos direitos humanos na frase de um painel em homenagem a Nelson Mandela, o líder sulafricano que morreu no último dia 5, aos 95 anos: “Tudo é considerado impossível até acontecer”. O painel, aliás, foi um dos pontos mais disputados para as famosas selfies – fotografia que se tira de si mesmo, em geral com smartphone, para postar nas redes sociais.
Para a ministra-chefe da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, Maria do Rosario Nunes, “o tempo dos Direitos Humanos é sim um tempo de urgência”. Pensar em direitos humanos é também pensar em dias melhores. No olhar de Saadani Maoulainine a certeza de que esse tempo chegará. “Devemos criar Nelsons Mandela em todas as partes do mundo. Lutar pela paz e por um mundo melhor”, diz, convicta.
Na cerimônia de encerramento, a secretária-executiva Patrícia Barcelos anunciou ainda o local do próximo Fórum Mundial de Direitos Humanos, que será no Marrocos, para a alegria de Saadani. Já a edição de 2015 volta à América do Sul, na vizinha Argentina.
*Estudantes de jornalismo da Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC Goiás), onde integram o Programa de Direitos Humanos (PDH), foram voluntários do Fórum Mundial de Direitos Humanos.